Atitudes

A reflexão, a cultura, o conhecimento, o saber, enfim, orientam, apontam a direção, mas não movem. A potência da ação racional depende de atitude adequada.

Santo Agostinho notou que o futuro só existe na mente como expectativa, um “presente do futuro”. Expectativas são projeções. Atitudes são disposições para agir, mobilizadas pela emoção, moldadas pelas crenças e estabilizadas pela prática. Expectativas e atitudes existem no presente e influenciam-se mutuamente.

A atitude natural diante do futuro incerto é um temor difuso e um sentimento de insegurança, que geralmente induz à inação. Já o receio de uma situação determinada mobiliza a ação.

Duas atitudes que, por vezes, se confundem, esperança e confiança, envolvem sentimentos e crenças quanto ao futuro. Esperança é uma expectativa positiva de base emocional, que nasce do desejo, mas não o habilita. Espera-se que algo seja possível, mesmo sem evidências. Trata-se de esperar sem agir, de desejar sem saber. Verdadeira ou falsa, a esperança é uma crença desejante, um desejo crédulo, não necessariamente crível, mas sempre reconfortante.

Para quem crê em adivinhos, sacerdotes, cientistas ou na sua experiência, o futuro deixa de ser completamente incerto e se torna, pelo menos em parte, seguro, mas não necessariamente benfazejo ou verdadeiro. Enquanto a esperança é baseada no “porvir”, alimentada pelo desejo de base emocional, a confiança é baseada no “já visto”, pois resulta de conhecimento e experiência; seu fundamento é racional. O “eu espero” se torna um “eu (penso que) sei”. Em qualquer caso, confia-se na própria capacidade de julgar a credibilidade da fonte e a verdade das próprias crenças. Embora haja possibilidade de engano, a confiança é afirmativa e é pré-requisito da ação em direção ao que se deseja ou para prevenir o que se teme e será testada enquanto o futuro permanecer irrealizado.

O ser humano é um animal capaz de modificar a natureza segundo desejos e receios. Essa capacidade se distingue da de outros animais pela potência da ação racional: usar conhecimento acumulado para alterar o presente em direção ao futuro desejado. Assim, o futuro do homem racional passa a ser moldado em grande parte pela sua vontade e não apenas pelo acaso ou pelo destino. Entretanto, aqueles que são comandados pela emoção continuam, como outros animais sencientes, a reagir às circunstâncias como vítimas em um mundo que não é mais apenas natural e é moldado em grande parte pela racionalidade de outros.

Confiança não é certeza. Se a confiança no próprio conhecimento não for acompanhada de alguma dúvida, ela se torna arrogância e deixa de admitir a crítica. Assim, a confiança adequada sempre aceita o risco de estar errada. E é aí que surge a atitude fundamental para a ação racional: a responsabilidade.

Responsabilidade pelas consequências previsíveis ou possíveis das próprias escolhas é um pré-requisito da ação racional e da liberdade individual. Só quando escolhemos deliberadamente assumir as consequências de nossas ações estamos agindo livremente. A confiança responsável é exatamente o “poder de” agir. É quando o “eu penso que sei” se torna o “eu posso”: fazer ou errar – desfrutar do benefício do sucesso ou suportar a dor do fracasso. Responsabilidade é a atitude que transforma expectativa em ação e possibilidade em liberdade.

 

Referências

Santo Agostinho. (2002). Confissões. São Paulo: Martin Claret.

Escrito por Jaime Wagner