As grandes revoluções na história humana se deram no sentido da acumulação de conhecimento e riqueza e da aceleração do ritmo da vida.
O homem primitivo reagia às demandas imediatas de suas necessidades fisiológicas de fome, sede, sono, sexo, etc. Como qualquer animal, ele era, individualmente, dirigido por seu relógio biológico, num ritmo diário ajustado pela rotação da Terra, mas sem grande rigidez. Sua noção de tempo não ia muito além do presente. Coletivamente, a vida semisselvagem do grupo desconhecia limites de tempo e espaço rígidos, caçando e colhendo conforme o deslocamento de animais e a disponibilidade das frutas ao longo das estações do ano.
O marco da revolução agrícola neolítica por volta de 10.000 a.C. foi a domesticação das plantas e animais. O homem também se domesticou passando a viver ainda em pequenos grupos, mas em limites de espaço definidos e disciplinas de tempo mais rígidas, impostas pelo trabalho coletivo de plantio, colheita e pastoreio, além das festividades e cultos associados. Já há aqui um tempo coletivo com mais eventos, ainda que ajustados por eventos naturais, e.g., solstício e equinócio.
A revolução urbana neolítica corresponde ao início das civilizações ao redor de 5000 a.C. Com o surgimento de cidades e do comércio entre elas, desenvolvem-se a especialização do trabalho e a resultante estratificação social, a escrita, a instituição do dinheiro e de calendários. Calendários marcam o início da dissociação entre o tempo civil e o tempo natural dos movimentos celestes e ritmos biológicos, num ritmo ainda maior do que o da vida puramente agrária.
Nos séculos XIV e XV a revolução mercantil foi um resultado indireto do Renascimento, sendo marcada pelo crescimento desordenado das cidades, consolidação de estados nacionais absolutistas, navegações de longo curso, imperialismo colonial, acumulação de divisas nacionais e, embora a posse da terra continuasse sendo a fonte do poder da aristocracia dominante, houve um grande fomento à manufatura como fator de competitividade nacional. Paralelamente ocorreu uma laicização e uniformização do tempo. Na Idade Média “a Igreja, com seu calendário eclesiástico e normas referentes ao que podia ou não ser feito em determinados dias”[1], havia consolidado no espírito público a associação de qualidade boa ou má a determinadas datas e dias de sorte ou azar. A oposição puritana às práticas da Igreja Romana e, em particular, ao calendário eclesiástico, propondo uma rotina regular de seis dias de trabalho e um dia de repouso no sabá, foi decisiva para acabar com a superstição em relação à qualidade dos dias. O tempo se desassociou de culto e resguardo para se associar a trabalho e descanso e, com o crescente comércio, inicia-se a noção de que “tempo é dinheiro”.[2]
A revolução industrial iniciada no século XVII com a invenção da máquina a vapor se consolida no século XIX. Progressivamente, as máquinas substituíram o trabalho mecânico do homem e a tração animal no transporte, instituindo o modo de produção capitalista e consolidando ideia de que tempo é dinheiro, pois a produtividade aumenta com a escala e com a redução dos tempos de produção. Essa aceleração do tempo nas fábricas tem sua contraparte no aumento progressivo da velocidade dos meios de transporte. O ritmo da vida e a acumulação de riqueza experimentam uma aceleração sem precedentes.
A chamada segunda revolução industrial ocorre com o advento da eletricidade no fim do século XIX e desemboca na revolução eletrônica das telecomunicações e da informática na segunda metade do século XX. A instantaneidade e o volume das transações e interações deixa de ser uma possibilidade para se tornar uma exigência da vida cotidiana. O dinheiro deixa de lado qualquer materialidade para escancarar sua virtualidade. O poder e a arte também se tornam informação transmitida, multiplicada e compartilhada. O ritmo da vida atinge velocidades sobre humanas, que começam a causar transtornos mentais para alguns e marginalização para aqueles que não conseguem acompanhá-lo.
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[1] (Whitrow, 1993, p. 126)
[2] “Enquanto o poder se concentrou na posse de terras, o tempo era vivido como abundante, sendo fundamentalmente associado com o ciclo inalterável do solo. Com a crescente circulação de dinheiro e a organização de redes comerciais, entretanto, a ênfase deslocou-se para a mobilidade. O tempo já não era associado apenas a cataclismos e festividades, mas à vida diária. Muitas das classes médias não tardaram a perceber que “tempo é dinheiro”, devendo portanto ser cuidadosamente regulado e usado com economia.” (Whitrow, 1993, p. 128)
Referências:
Whitrow, G. J. (1993). O Tempo na História: concepções de tempo da pré-história aos nossos dias. (M. L. Borges, Trad.) Rio de Janeiros: Zahar.