Semana passada escrevi um texto sobre os três significados do amor na Grécia antiga: eros, philia e ágape. Agradeço aos muitos leitores que reagiram, mas eu falhei em deixar de ressaltar como isso envolve a questão da priorização no dia a dia.
Na PowerSelf digo que a priorização racional deve classificar um conjunto de possibilidades de ação considerando três critérios apenas: importância, urgência e duração. Importância é sinônimo de valor e faltou dizer no texto que importante é aquilo que nós amamos. Urgência é o sentimento que nos invade diante da possibilidade de perda de um valor – a proximidade do prazo. O conceito de Eros, do amor como falta tem tudo a ver com isso – sentimos mais a falta de um amor ou de um valor do que a sua posse ou presença. A duração de um trabalho é uma medida do seu custo direto – e tendemos a priorizar as coisas rápidas de baixo custo, postergando assim a realização de coisas mais demoradas e de alto valor, que acabam sendo feitas só quando se tornam urgentes. Não admira que muitos vivam de crise em crise, perdendo amores pelo caminho.
Ainda sobre o amor quero trazer uma definição minha. Se você googlar o título deste artigo verá pelo menos cinco páginas (não fui além) com apenas três temas: a) o mantra feminista da desvalorização e abuso do trabalho doméstico; b) o lema do RH de que você deve trabalhar no que ama fazer; c) promoção de um filme sobre a dificuldade do amor entre duas pessoas com interesses diferentes.
Desculpem-me por, mais uma vez, fugir ao lugar comum. Se você só gosta de platitudes pare de ler por aqui – depois de buscar no dicionário o significado de platitude 😊 – porque vou começar a filosofar.
Primeiro, quero dizer que, para mim, trabalho não é sinônimo de emprego. Creio que emprego é o trabalho alienado onde se vende o nosso tempo (nossa vida) em troca de dinheiro. Além da confusão entre trabalho e emprego, outros sintomas da alienação são: pensar que valor é preço e que tempo é dinheiro.
Entendo que trabalho é esforço (físico, mental, emocional) para gerar um resultado que tenha valor (econômico, financeiro, afetivo, estético, moral, epistêmico). Valor econômico é utilidade, a medida em que algo satisfaz uma necessidade ou desejo. Valor financeiro ou valor de troca (preço) expressa a escassez de algo, a relação entre oferta e procura daquele bem. Nem sempre há correlação entre valor econômico e valor financeiro. A primeira necessidade humana, antes mesmo da alimentação, é a respiração, daí que o ar tem um grande valor econômico. Entretanto, como é abundante na Terra, seu valor financeiro é baixo. Já em viagens espaciais gastam-se milhões para conservar uma atmosfera respirável. O valor afetivo por excelência é o amor. Valor estético é a beleza ou emoção gerada pela criação artística. Valor moral é a virtude. Valor epistêmico é a verdade do conhecimento. Valores morais e afetivos e epistêmicos se tivessem preço perderiam o seu valor.
Para gerar qualquer valor é preciso esforço. Até mesmo a contemplação da beleza de uma paisagem requer um tipo de atenção que não é comum. E o valor afetivo é regado pelo cuidado – um tipo de atenção exclusiva ao objeto do nosso amor, seja ele uma pessoa, animal, causa, coisa ou ideia. Portanto, amor é o resultado do trabalho de dedicação e cuidado pelo objeto do amor.
Como anda a sua priorização? Tem feito aquilo que ama e dedicado tempo para os seus amores?
Se você deseja entender mais sobre o tempo e, principalmente, como aproveitá-lo melhor a partir da priorização, comece pelo meu livro, o qual você encontra clicando aqui.