Ideologia

Há duas concepções de ideologia: a neutra e a crítica. Na concepção neutra do senso comum ideologia é sinônimo de ideário: conjunto de ideias, doutrinas ou visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, que orienta suas ações sociais e políticas. A concepção crítica surge com a história do termo, originalmente proposto pelo conde Destutt De Tracy (1754-1836) para descrever uma ciência positiva da formação das ideias a partir das percepções sensoriais, uma tentativa de buscar as bases psicológicas da epistemologia. Napoleão foi o primeiro a usar o termo criticamente para caracterizar os “ideólogos” seguidores de De Tracy como “deformadores da realidade”. Este foi o sentido geral que Marx deu ao termo, como uma superestrutura das relações de poder econômico, cuja função é justificar as relações de poder estabelecidas: “ferramentas simbólicas voltadas à criação e/ou à manutenção de relações de dominação”.

 

De acordo com a noção neutra entendo que cada um tem a sua ideologia: seu conjunto de ideias sobre o mundo – uma mistura de juízos de fato e de valor – que orientam suas decisões. Entretanto, justamente por incorporarem juízos de valor e terem efeitos práticos bons ou maus para o agente, ideias não são completamente neutras ou desprovidas de interesse e, sim, servem a propósitos ou motivos conscientes ou não do pensante. A grande parte dos motivos pré ou inconscientes são inculcados no agente pela sua educação e, sim, fazem parte da superestrutura cultural que sustenta as relações sociais e políticas do seu grupo social. Entendo assim que qualquer ideologia está carregada de voluntarismo idealista: a vontade de conformar o mundo a uma ordem de valores considerada ideal por quem a formula. E é justamente por serem idealistas na ordem dos valores que as ideologias deixam de ser realistas na ordem dos fatos. Entretanto, existem fatos resultantes de cadeias de causas e consequências determinadas que escapam às possibilidades de influência da vontade. Neste sentido, a decisão mais correta é a que se conforma a essa realidade determinística e não a que tenta inutilmente alterá-la. Mas ideias são produtos humanos e culturais, onde o interesse e a razão lógica são determinantes e que produzem também cadeias de causas e consequências, que dependem da vontade e onde a liberdade e a autonomia encontram seu espaço. Aqui, a conformidade e a aceitação tácita é que incorrem em erro de princípio.

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