A noção de trabalho se associa a esforço. Esforço é o custo ou ônus do trabalho. Assim, trabalho é entendido como o preço a pagar pela vida. Pode ser esforço físico, intelectual ou emocional – trata‐se de vencer uma dificuldade. E a primeira dificuldade é a inércia – nossa tendência natural a permanecer na zona de conforto do “dolce far niente” – o ócio descompromissado.
A noção de trabalho como uma obrigação penosa vem desde a Grécia antiga, traduzida no mito de Sísifo. Sísifo era muito esperto e enganou os deuses, que lhe impuseram a punição de, por toda a eternidade, rolar uma grande pedra até o cume de uma montanha. Quando estava quase no topo, a pedra rolava montanha abaixo. Foi um castigo para mostrar que os mortais não têm a liberdade de escolha e o poder dos deuses, devendo, pois, executar um trabalho rotineiro, cansativo, monótono e repetitivo: arar, plantar e colher para depois, novamente, arar, plantar e colher.
Os gregos consideravam que o trabalho de subsistência era uma atividade menor, típica de escravos, trabalhadores e mulheres. Só eram cidadãos aqueles que tinham a sua subsistência sustentada pelo trabalho dos primeiros. Liberdade era liberdade do trabalho e somente os homens livres poderiam se dedicar à filosofia e à política.
A conotação negativa de trabalho está na própria origem latina da palavra: tripalium (literalmente, “três paus”). O tripálio era um instrumento romano de tortura, no qual eram amarrados os escravos indolentes ou rebeldes. Daí derivou‐se o verbo tripaliare, que significava torturar no tripálio.
Entretanto, a finalidade do trabalho não é o esforço. Esse é o seu custo. Qual é, então, o objetivo do trabalho?
A finalidade do trabalho é gerar um resultado: realizar ou produzir algo. Muitas pessoas equiparam resultado com lucro. Entretanto, um trabalho voluntário como o dos Médicos Sem Fronteiras não gera lucro, mas tem muito valor.
Como se mede o esforço? Como se mede se alguém se esforça mais do que outrem? E como se mede o resultado?
O esforço se mede de duas formas. Diferentes trabalhos se comparam pela sua dificuldade relativa. Para um mesmo trabalho o esforço se mede pelo tempo empregado na sua execução.
Já o resultado é medido pelo valor gerado, que não deve ser confundido com remuneração. O valor do trabalho de um professor é o quanto os alunos aprendem, quer ele ganhe ou não para ensinar. Um trabalho voluntário não é remunerado, mas tem valor. A cura e a prevenção da doença e a melhoria da saúde da população é o valor do trabalho médico em geral – e não depende da remuneração do médico. Aliás, afora a contemplação das belezas naturais, não consigo pensar em nenhum valor que se possa gerar sem trabalho. Talvez não seja exagero afirmar que o trabalho é “a” forma de gerar ou criar valor.
No mercado os valores tendem a se traduzir em termos de trocas. Sabemos o preço, mas não o valor das coisas e das pessoas. As noções de valor e preço se confundem, e o dinheiro se torna a medida e o solvente universal de todos os valores.
O produto do trabalho tem seu valor de uso transformado em valor de troca pelo mercado. Ocorre uma alienação da finalidade do trabalho pois ele deixa de se voltar para a satisfação direta das necessidades (valor de uso) e passa a ser um meio de adquirir moeda (valor de troca) para a troca por outros produtos. A noção de que tempo é dinheiro se consolida no mercado de trabalho, onde se troca tempo por salário.
A alienação do trabalho é uma alienação do próprio conceito de valor. As pessoas parecem esquecer que há valores afetivos (amável, agradável), éticos ou morais (bom, justo), estéticos (belo, apreciável), religiosos (sagrado), e o próprio valor verdade (verdadeiro), que não têm preço.
O trabalho amoroso, o cuidado e a atenção dedicados a alguém têm um enorme valor afetivo, que não se mede em dinheiro. A prática de virtudes morais (honestidade, calma, temperança, persistência, etc.) também requer o esforço da disciplina e também não tem preço.
Nem mesmo o valor econômico se reduz ao dinheiro. Valor econômico é utilidade, dinheiro mede o valorfinanceiro, ou valor de troca. O valor financeiro de algo é dado pela sua escassez relativa ou raridade, pela sua relação entre oferta e procura. O valor econômico ou valor de uso é utilidade, a medida em que algo satisfaz uma necessidade ou desejo. Nem sempre há uma correlação entre valor econômico e financeiro. Por exemplo, o ar é extremamente necessário para a vida, daí a sua utilidade e o seu alto valor econômico. Entretanto, como é abundante na Terra, seu valor financeiro é baixo. Já em viagens espaciais gastam-se milhões para conservar uma atmosfera respirável.
Resultado não é só lucro, valor não é preço, trabalho não é emprego e tempo não é dinheiro. Resultado é valor, valor é tudo que tem qualidade positiva, trabalho é o esforço para gerar valor e tempo é vida.
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Excelente, Jaime!!!