Yuval Harari, ecoando Max Weber, diz que a escrita e o dinheiro viabilizaram a estruturação de sociedades administradas por burocracias complexas em que a separação do trabalho e a especialização possibilitaram uma eficiência crescente. Creio, porém, que a divisão de responsabilidades também pode emperrar o funcionamento de estruturas mais complexas onde a separação de funções ameaça a própria eficiência que constitui sua razão de ser.
Nas grandes burocracias parece que quem tem o poder de decisão só tem conhecimento superficial sobre aquilo que deve decidir; os especialistas que conhecem o tema não têm poder de decisão; e nem os decisores nem os conhecedores se “rebaixam” a executar ou operacionalizar aquilo sobre o que opinam ou decidem, já que é típico que essas áreas operacionais tenham o menor status e a menor remuneração e não precisem conhecer muito sobre aquilo que executam desde que obedeçam às normas. Pior: ninguém se arrisca a ter iniciativa para cobrir eventuais lacunas ou áreas cinzentas na teia das normas, pois, além do conhecimento técnico, as burocracias exigem que se conheçam os requisitos de controle do processo, que muitas vezes visam apenas a manutenção de uma hierarquia política, reveladora da tendência das burocracias de se tornarem um fim em si mesmas.
Assim, quem faz, não sabe nem decide; quem decide, não sabe nem faz; e quem sabe, não decide nem faz. Resultado: o zelador não troca a lâmpada queimada porque não pode comprá-la. O comprador não compra lâmpadas porque não recebeu a requisição. E o diretor não sabe que tipo de lâmpada é usado nem quantas lâmpadas estão queimadas. Aliás, numa inversão jocosa da hierarquia dizem que quem sabe faz, quem não sabe opina e quem não quer nem saber administra.