Esta é a tradução de uma matéria de Fred Barbash publicada no Washington Post
Por que estudantes usando laptops aprendem menos em aula mesmo quando estão realmente anotando
Você é um daqueles caras antiquados que insistem que os garotos aprendem melhor quando deixam os laptops em casa e tomam notas à mão nas aulas?
Se é assim, você está certo. Há nova evidência para provar isso, e isso é perturbador porque tantos estudantes não são mais ensinados a escrever à mão.
De acordo com um novo estudo baseado numa série de experimentos em laboratório comparando o quanto os estudantes aprenderam após assistir às mesmas aulas, é inquestionável: quem escreve à mão aprende mais, simples assim. Aqueles que tomaram notas à mão demonstraram ter tirado mais das aulas do que os digitadores.
Não é, porém, pelas razões que a maioria pensa. Não é por causa da “multi-tarefa” ou da distração disponível para estudantes que usam laptops, especialmente com WiFi. Isto é um problema em si. Mas, para esse estudo, num ambiente controlado, nenhuma atividade externa era permitida.
Mesmo quando os estudantes prestavam atenção e tomavam copiosas notas nos seus laptops, ainda assim não aprendiam tão bem. De fato, o volume da sua anotação pode ser parte do problema, como o estudo descobriu.
Pode ser, reportaram os pesquisadores, “que quem anota à mão processa melhor a informação do que quem digita, assim selecionando a informação mais importante para incluir em suas notas, o que os permite estudar” mais eficientemente.
Os autores são os psicólogos Pam A. Meller da Universidade de Princeton e Daniel M. Oppenheimer da UCLA. O estudo, intitulado “A Caneta é Mais Poderosa do que o Teclado: Vantagens da Anotação à Mão Sobre Notas em Laptop,” foi publicado online na revista Psychological Science. Ele também foi resumido no Science Daily.
Os pesquisadores conduziram três estudos separados envolvendo um total de 327 estudantes para chegar às suas conclusões. todos os estudantes assistiram às mesmas aulas, mas alguns recebiam laptops para anotar enquanto outros eram instruídos a anotar à mão.
Quanto ao aprendizado dos conceitos apresentados nas aulas os anotadores à mão ganharam.
Quanto à recuperação de fatos, os grupos tiveram resultados comparáveis, exceto quando lhes foi dado tempo para estudar suas anotações em casa, quando, mais uma vez, os anotadores à mão se saíram melhor.
“Mesmo quando lhes foi permitido revisar as notas após um período de uma semana, os participantes que haviam tomado notas com laptops, tiveram um desempenho pior tanto em relação ao conteúdo factual como quanto à compreensão conceitual…”
De maneira geral, os pesquisadores reportaram:
“Quando testados em relação ao que tinham ouvido, os estudantes que anotaram à mão aprenderam melhor. Eles saíram com uma compreensão conceitual significativamente melhor e não se saíram pior do que os usuários de laptop quando se tratou de recordar fatos.”
Eis o que é um pouco assustador. Quando os pesquisadores instruíram os estudantes com laptop a reduzir ou eliminar a anotação literal, eles não conseguiram. Os pesquisadores escreveram:
“O uso do laptop pode afetar negativamente o desempenho nas avaliações de aprendizado, mesmo, ou especialmente, quando o computador é usado com a função de facilitar a anotação. Embora um número maior de notas traga benefício, pelo menos até certo ponto, se as notas são escritas indiscriminadamente, ou através de uma mera transcrição das palavras, o que é mais provável no caso de notas digitadas do que em notas escritas à mão, o benefício desaparece.”
De fato, o estudo se acrescenta a uma tonelada de evidências de que para o aprendizado, escrever à mão é melhor e que “a mão tem uma relação única dom o cérebro quando se trata de compor pensamentos e ideias.” Isso também é suportado por estudos envolvendo Ressonância Magnética do cérebro. Escrever à mão ativa o cérebro de formas diferentes daquelas usadas na digitação de forma a aumentar o aprendizado.
É claro que a chance de convencer os estudantes a deixar de lado seus computadores é provavelmente nula. Muitos deles já não conseguem mais escrever à mão, um assunto esquecido em muitas escolas americanas, o que já é uma fonte de controvérsia em si.
Há esperança? Pode ser, Mueller disse num e-mail para o Wasshington Post:
“Como descobrimos que isso é resultado de uma tendência dos usuários de laptop a tomar notas de forma literal, se for possível ensinar às crianças a não serem tão literais e serem mais seletivas na sua anotação nos laptops (i.e., como se é forçado a fazer na anotação à mão), eles teriam um desempenho equivalente aos anotadores à mão. Porém… descobrimos que apenas dizer às pessoas para não serem literais simplesmente não funciona, assim qualquer intervenção nesse sentido que se possa imaginar será bastante difícil.”
Outra possibilidade, alguns sugeriram, são os apps que permitem a escrita à mão em tablets, um compromisso que os estudantes poderiam aceitar.