Identifico-me completamente com o lema inspirado e inspirador da Junior Achievement: “a vida é um caminho, não um destino, e você é o arquiteto do seu caminho”. Nossa missão é fomentar a cultura empreendedora e seus valores morais e mostrar aos jovens que a empresa privada é a célula matriz da geração de riqueza e das trocas justas. Num país com muitas carências é difícil para o jovem aceitar o paradigma da abundância, segundo o qual a riqueza se cria e a união de um mais um é mais do que dois. É mais natural pensar sob a ótica da escassez, da riqueza estática, que só pode ser conquistada se for tirada do outro, visto como algoz, mais do que como igual.
Também é nossa missão mostrar que competição não é algo que se faz contra os outros, mas sim com os outros, contra as próprias limitações. O sucesso dos outros e o nosso são medidas comparativas do esforço conjunto de superação, no desenvolvimento de competências. Ser competitivo é desenvolver capacidades, tornar-se mais competente. A raiz latina das duas palavras explica: “com = junto + petere = buscar”. O que se busca? A superação e o crescimento pessoal. As maiores limitações estão dentro de nós. Competição é superação e o maior exemplo disso é o esporte. Em suma, a competição não exclui a solidariedade, mas, ao contrário, é o maior sinal de respeito pelo outro, pois o auxilia no seu crescimento e o desafia a sair da zona de conforto da ignorância, da pobreza e da fraqueza.
Num sistema de ensino que prepara os jovens para o emprego, mais do que para o trabalho, preciso transformar sapos em príncipes, dando-lhes o beijo de fada do exemplo. Mostrar pelo exemplo, mais do que pelo discurso, que se pode criar valor sem tirá-lo de ninguém e que a criação de valor (e não a eventual remuneração ou o esforço) é a verdadeira finalidade de todo trabalho. O trabalho voluntário “é” essa mensagem.
Acredito firmemente no poder da inspiração e do trabalho conjunto em clima de cooperação. É incomensurável a potência criativa adormecida nos corações e mentes dos jovens. O despertar desta vontade de potência é um momento mágico que o trabalho na Junior Achievement proporciona: o momento da transformação do sapo em príncipe. Mas é difícil beijar sapos. É mais fácil virar sapo e aceitar o brejo, praticando o reconfortante discurso de vítima, que louva a fraqueza, atribuindo aos outros (ou ao governo) a culpa de todos os males e, vez por outra, lavar a alma na prática do sacrifício de algum bode expiatório. Acredito que muitos empresários precisam também de uma injeção de empreendedorismo, e podem ganhar muito com o trabalho junto aos jovens.
Embora alguns traços de temperamento favoreçam o desenvolvimento do espírito empreendedor, ele está ao alcance de qualquer um, com maior ou menor grau de dificuldade. A genética e o ambiente podem facilitar enormemente, mas não impedem o crescimento. O ambiente empreendedor se caracteriza pela flexibilidade das interações sociais e das trocas entre as pessoas. Portanto, também é nossa missão lutar pela liberdade e pela democracia como valores máximos das instituições. E, também aqui, convém unir a ação ao discurso.
A boa nova é que a filosofia empreendedora vem se afirmando e o ambiente é cada vez mais propício ao empreendedor. Acredito que este é o século em que será reconhecida a verdade de Schumpeter de que o empreendedor é a mola mestra de todo desenvolvimento econômico. Mas vou além. Entendo que o empreendedorismo é o caminho do crescimento pessoal e do desenvolvimento do caráter: transformar sonhos em metas e buscar a sua realização; visualizar soluções para os problemas e ter a coragem de admiti-los e enfrentá-los. Empreendedorismo é uma filosofia de vida – aliás, a melhor. A vida produtiva e criativa, aquela que vale a pena ser vivida, é uma série de empreendimentos. Crescer sempre, pois apenas sobreviver é uma meta mesquinha. Parodiando o lema dos navegadores antigos: “Empreender é preciso, viver não é preciso”.
* Discurso de Posse na AJA-RS – 2006