Há vários tipos de viajantes. Tem o “viajante perfeito” que viaja pelo mundo sem sair do lugar. Não que fique no mesmo lugar. Viaja mesmo, desloca-se. Mais que isso: descola-se. Onde quer que esteja, lá é o seu lugar. Vai, mas principalmente, está. E à vontade. Está enquanto fica e fica completamente enquanto está. E depois segue para outro lugar. Sempre seu, mas sempre diferente.
Já o ”viajante caracol” viaja sem sair de casa. Não que fique em casa. Esse também vai. Vai e fica. Mas não fica “no” lugar. Transmuda o lugar para a casa que leva consigo, feito tartaruga ou caracol. É como se, em qualquer lugar, estivesse sempre na sua casa, na mesma casa. E depois segue em busca de outro lugar. Sempre seu e sempre igual à sua casa.
Tem também o “viajante telúrico”, arraigado à terra, à casa. Este, se viaja, volta. E correndo. Viaja por obrigação ou por necessidade. Pois não consegue levar a casa como o caracol. Viajante desterrado, nenhum lugar é seu, nenhum igual à sua casa.
E tem aquele “ficante universal” que nunca sai de casa mas viaja o tempo todo. Mesmo sem possibilidade de viajar pelo mundo, viaja “na casinha”, na cabeça. Esse é o tipo que mais viaja na Internet. Está em todos os lugares ao mesmo tempo: onipresente virtual, turista instantâneo – sua casa é o mundo.
* Este texto foi publicado originalmente no Baguete (www.baguete.com.br) e faz parte do meu livro “O Entregador de Sonhos”. Reproduzo-o aqui por solicitação da minha querida amiga, colega e consultora: Sylvia Lemos.