Como encontrar o co-founder certo?

Entendo por co-founder alguém que tenha uma participação expressiva e efetiva no capital e na viabilização da startup. Excluo portanto colaboradores com vesting minoritário (menor do que 3%). Encontrar a pessoa certa para essa parceria pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso da sua empresa.

Um ou uma co-founder precisa ser tão empreendedor quanto o/a founder. O empreendedor é um fazedor com iniciativa, capacidade de execução, de solução de problemas e resposta imediata. Embora todos nós empreendamos individualmente, nem todos estamos preparados para criar empresas.

Creio que a característica distintiva do founder de sucesso está no seu temperamento, na sua constituição emocional. É uma pessoa altamente motivada pelo desejo de realizar algo, seja por propósito ou por ambição. Tem baixa aversão a risco e coragem para assumir responsabilidades além da sua capacidade atual, na convicção de que aprenderá a superar os desafios que se apresentarem. A resiliência emocional é fundamental, o co-founder precisa suportar a dor de não conseguir resolver todos os problemas, de pagar o preço por isso e, mesmo assim, seguir em frente. Além disso, a persistência é chave: manter-se fiel ao seu propósito mesmo diante de reveses, sem saltar para um novo projeto diante das dificuldades.

Por fim, o co-founder precisa assumir verdadeiramente a responsabilidade última pelo sucesso ou pelo fracasso da startup, sem que a sua própria autoestima dependa disso. Deixo claro que estou falando de uma startup nascente em fase de viabilização onde a liderança requer um perfil empreendedor. Posteriormente, durante a consolidação, a empresa requererá um líder com habilidades de gestão e um perfil mais voltado a pessoas, processos e visão estratégica.

Sócio ou investidor: qual a diferença?

Em relação ao quesito motivação, deve-se fazer a distinção entre sócio e investidor. Muitos dizem que sócio é quem aporta trabalho e investidor é quem aporta capital. Eu faço outra distinção: sócio entra para ficar, investidor entra para sair, independentemente de aportar capital ou trabalho. O investidor não visa remuneração imediata, não precisa de pró-labore em valor de mercado no caso de aportar trabalho e não visa lucro e dividendos no caso de aportar capital. O que o investidor quer mais é crescimento, pois ele mira a venda da sua participação em 5 ou 10 anos.

É claro que, mesmo para ser investidor de trabalho, a pessoa precisa ter um lastro econômico. Pode ser um jovem solteiro que mora com os pais ou tem fortuna de família, ou uma pessoa madura que construiu um lastro como profissional ou fez uma saída de um empreendimento anterior. A motivação do investidor vem mais da possibilidade de remuneração futura do que do propósito, embora um investidor de trabalho possa ser tão engajado e contribuir tanto quanto um sócio. Já a motivação principal do sócio diz muito mais respeito ao propósito do negócio do que ao seu potencial de crescimento. Ele procura e investe em uma startup que corresponda às suas aspirações ou vocações.

Outra diferença fundamental é que o sócio, mesmo que minoritário, tipicamente quer influir mais nos destinos da empresa, ou seja, ele gostaria de aumentar sua participação e ter mais poder de decisão. Isso fica mais claro na distinção entre um sócio estratégico de capital e um investidor de capital de risco. Mas, se o investidor de trabalho tiver clareza quanto aos seus objetivos, ele também vai querer permanecer minoritário, já que uma boa parte do valor da empresa numa venda futura depende da preservação das pessoas chave, e ele provavelmente quererá sair para um novo empreendimento.

Dito isso cabe perguntar, primeiro, como você se vê: como sócio ou investidor? Você está criando uma empresa para usar suas habilidades e fazer diferença no mundo? Ou sua ambição é usar e melhorar suas habilidades para fazer um negócio crescer e ganhar muito dinheiro com isso? Se você se vê como investidor, convém buscar alguém com motivação de sócio e vice-versa, pois perfis complementares são melhores para a empresa.

A importância da complementaridade de perfis e habilidades

Inovação quase sempre requer capacidade tecnológica. Não ter o domínio sobre uma componente tão fundamental do negócio não é recomendável. Não apenas a propriedade intelectual, mas um efetivo domínio da tecnologia, necessário até para terceirizar e orientar o desenvolvimento adequadamente. Por isso, muitas startups começam como uma ação entre amigos com background tecnológico que desenvolvem um produto. Mas um produto não se vende por si e uma empresa precisa ter capacidade comercial e de marketing. Então é comum, que, depois de um tempo, as startups com times inicialmente técnicos busquem um sócio com essas habilidades. Ele pode entrar como um colaborador com vesting, mas se for realmente diferenciado, convém que ele seja encarado como co-founder e tenha uma participação relevante.

Depois, para escalar o negócio, são necessárias habilidades gerenciais. É raro que uma mesma pessoa reúna conhecimento e habilidades tecnológicas, comerciais e gerenciais. Seria ótimo se as empresas nessa fase já tivessem capacidade econômica para contratar um CEO de mercado, mas o mais comum é que a empresa marque passo esperando o amadurecimento dos founders sem essas capacidades.

Liderança e tomada de decisão

Outro aspecto crucial é a questão da liderança. Quem lidera a startup? Quem teve a ideia? Quem colocou mais dinheiro? Quem dedica mais tempo? Nenhuma dessas questões, por si só, qualifica uma pessoa para a liderança. Liderar é uma habilidade, e a responsabilidade de um líder é muito mais um ônus do que o bônus do respectivo status. Geralmente, no início, todos “pegam junto” e cada um faz a sua parte de acordo com suas habilidades e disponibilidade. Evita-se, muitas vezes, deixar clara a liderança de uma pessoa e, neste caso, o título de CEO é apenas mais um título entre os outros, mas é importante que essa responsabilidade seja reconhecida, respeitada e cobrada por todos. E, sim, a função de CEO pode ser passada a outro sem que o founder que antes a desempenhava seja demitido se as pessoas envolvidas tiverem maturidade para isso.

 

Por Jaime Wagner