Apesar de a natureza peculiarmente fundamental do tempo em relação a nós ficar evidente assim que refletimos que tanto nossos julgamentos em relação ao tempo quanto os eventos aparecem como estando ‘no’ tempo, ao passo que nossos julgamentos sobre o espaço não parecem em nenhum sentido óbvio estar no espaço, os físicos foram muito mais profundamente influenciados pelo fato de que o espaço parece nos ser apresentado todo de uma só vez, enquanto o tempo nos chega somente pouco a pouco. (WHITROW, 1961, p. 2)
Espaço e tempo sempre andaram juntos no pensamento humano. Às vezes de mãos dadas, um puxando o outro, às vezes como irmãos siameses. Arquimedes, Galileu, Newton e, de uma certa forma, também Kant privilegiaram o espaço. Já os partidários do tempo, desde Aristóteles até à dupla Einstein/Minkowski, foram mais tímidos na afirmação de sua precedência.
Talvez o maior defensor da relação siamesa entre espaço e tempo tenha sido Locke que disse no seu Ensaio sobre o Entendimento Humano: “expansão e duração se abraçam e se compreendem mutuamente; cada parte do espaço estando em cada parte da duração, e cada parte da duração em cada parte da expansão.” Dito de outra forma, todos os instantes do tempo existem no espaço e em cada um dos pontos do espaço; assim como todos os pontos do espaço existem no tempo e em cada instante do tempo.
Na concepção (hoje descartada) de Kant tanto o tempo como o espaço seriam ideias a priori, no sentido de serem anteriores a qualquer experiência. Entretanto, ele afirmou que a percepção do tempo ou da mudança pressupõe a discriminação entre identidade e distinção no espaço, o que parece estabelecer uma precedência do espaço em relação ao tempo.
Em vez de afirmar com Locke que cada parte do espaço está em cada parte do tempo e cada parte do tempo em cada parte do espaço, Minkowski (seguindo Einstein) apontou que “ninguém jamais notou um lugar, exceto em um tempo, ou um tempo, exceto em um lugar.” (apud. WHITROW, 1961, p. 224). Ele definiu “um” ponto do espaço “num” ponto do tempo como um “ponto-no-mundo”, sendo o “mundo” o conjunto de todos esses “pontos-no-mundo”. Uma partícula com alguma duração cria uma “linha-no-mundo” cujos “pontos-no-mundo” são marcados por um relógio associado à dita partícula. O “mundo” de Minkowski (depois chamado espaço-tempo) existe de forma diferente para distintos observadores em diferentes contextos inerciais e substitui a concepção Euclidiana das quatro dimensões independentes e absolutas que constitui o mundo para o senso comum. Esta nova concepção de mundo é consequência da derrubada por Einstien do referencial inercial absoluto de Newton (o Éter) pelo referencial dinâmico também absoluto da velocidade da luz. Assim como Kant, Einstein e Minkowski partem da indissociabilidade entre espaço e tempo, mas terminam por subordinar um ao outro. Kant privilegia a estática sobre a dinâmica, Einstein vai no sentido inverso ao postular o absoluto dinâmico da velocidade da luz.
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WHITROW, G. J. (1961). The Natural Philosophy of Time. London: THOMAS NELSON AND SONS LTD.