Empreendedorismo – a nova Paideia

 

Educação é treinamento para o mercado ou formação para a vida?

Já falei em outro post que a finalidade da vida é a sua própria preservação numa eterna luta “contra a indiferença de um universo aleatório”. A vida humana, mais complexa, luta não apenas pela sobrevivência física da transmissão dos seus genes através da reprodução sexuada, mas também pela sobrevivência cultural da transmissão dos seus valores através da educação. A humanidade seja como espécie, seja como valor, sobrevive pelo esforço paradoxal de luta e cooperação entre os seus indivíduos. Reprodução genética ou cultural não é mera cópia e preservação rígida. A evolução criativa ocorre quando mudanças no padrão anterior são submetidas ao crivo da seleção pela prática, sobrevivendo as características mais adaptadas às condições ambientais também mutáveis.

A luta pela sobrevivência cultural se dá em dois planos interligados: o econômico e o político, e a educação visa a aptidão nesses dois planos transmitindo regras de funcionamento de instituições coletivas e regras de comportamento e competências individuais. As regras, competências e instituições econômicas regem a divisão do trabalho, sendo o Mercado a instituição econômica por excelência. As regras, competências e instituições políticas determinam a distribuição do poder, sendo o Estado a instituição política mais relevante. As diferenças de poder e a divisão do trabalho definem a distribuição da riqueza. A política privilegia a luta, a economia enfatiza a cooperação.

Na Antiguidade a natureza era virgem e rica, mas os homens temiam a escassez porque a tecnologia e a organização do trabalho eram pobres. A política regia a economia numa sociedade de povos em luta. A luta era a regra dominante e a educação visava o adestramento de uma nobreza guerreira. Esta é a origem da Paideia grega ensina Werner Jaeger (Jaeger, 1995). O trabalho era uma forma de luta do homem contra a mãe natureza. Ao longo da história a cooperação se revelou mais eficaz do que a luta, e a economia passou a reger a política numa sociedade de massas trabalhadoras. A divisão do trabalho determina a distribuição do poder e o adestramento para o trabalho especializado é o objetivo primordial da educação. Entretanto, o medo da escassez persiste, agora devido às ameaças da tecnologia à natureza. Domesticada a natureza, uma nova luta se configura entre o homem e sua criatura: a máquina.

Se antes a educação já visou um ideal de força ou de sabedoria do homem como ser político, hoje ela visa a competência técnica de um ser econômico voltado para um trabalho essencialmente realizado por máquinas. As competências de desenvolvimento, produção e uso de máquinas deram ao homem domínio sobre a natureza e o condenaram a um novo servilismo. Na engrenagem econômica operada por máquinas os operadores se tornam acessórios, numa produção que parece buscar um fim em si mesma ao gerar excedentes tóxicos.

A ideia de educação como formação de um ser político, com referência a um ideal de homem integral, dado pela e voltado para a sociedade humana, nunca deixou de ser buscada. Mas hoje compete com uma visão mais estreita da educação como treinamento para uma função no mercado. Entretanto, o empreendedorismo surge como uma nova Paideia, um processo de formação integral em que a competência técnica é um elemento apenas. Neste processo, em que o aprendizado se faz necessariamente na prática e em que a mola é a busca do sucesso econômico, a grande obra não é este sucesso, mas a formação do líder empreendedor, que se forja até mesmo pelo fracasso e, necessariamente, pelo enfrentamento das dificuldades e das próprias limitações.

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Referências

Jaeger, W. (1995). Paideia – a Formação do Homem Grego (3a ed.). (A. M. Parreira, Trad.) São Paulo: Martins Fontes.

 

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