Invisto em startups desde 1997. Desde 2013, tenho convidado amigos para investir comigo nas empresas aceleradas pela WOW, da qual fui um dos fundadores.
Normalmente, as empresas precisam de sociedade mais do que de investimento. Quase todas querem investimento de risco, mas só algumas têm chance real de obtê-lo. Entretanto, percebo que, tanto entre potenciais investidores como até mesmo entre alguns empreendedores, persiste uma confusão sobre os papéis de investidor e de sócio.
O sócio e o investidor participam ou têm a opção de participar do capital da empresa. Isso é o que eles têm em comum. Mas em que diferem? Entender essa diferença é fundamental para a tomada de decisão de investir e de buscar investimento.
A primeira resposta que muitos dão é de que sócio é de trabalho e investidor é de capital. Mas não é bem assim! Tanto podemos ter sócios de capital quanto investidores de trabalho.
De uma forma simples e crua, digo que a diferença fundamental é que, em qualquer empreendimento, “o sócio entra para ficar enquanto o investidor entra para sair”. Dito de outra forma, o investidor quer valorizar patrimônio, enquanto o sócio visa renda continuada. Ou ainda, sócio visa lucro – investidor quer crescimento.
O investidor compra uma participação visando a sua venda futura. Para ele, toda a renda deve ser reinvestida para acelerar o crescimento e demonstrar a possibilidade de aumentar o giro com mais investimento. Esta mentalidade pode ser de alguém que entre com capital ou de alguém que entre só com trabalho sem a respectiva remuneração. Ambos receberão a partir da venda de sua participação no futuro.
Já o sócio de capital foca na lucratividade para obter dividendos ao longo do tempo. Paralelamente, o sócio de trabalho espera que os dividendos venham a cobrir a remuneração de pro labore e benefícios de que ele abre mão. Ambos contam com a renda obtida a partir da lucratividade da empresa, continuamente.
Toda empresa precisa de sócios e colaboradores que se complementem para fazer o negócio girar. Então, é claro que o patrimônio dos sócios também se valoriza com o crescimento e eles o buscam tal qual os investidores. Por isso, gosto mais da minha primeira definição, mais crua, pois ela esclarece algumas diferenças de postura mais sutis.
O sócio quer continuar na empresa e, portanto, se interessa mais por ter influência em seu destino, mesmo quando minoritário. Isto é, ele tem interesse em se tornar majoritário. O investidor, por seu turno, visa uma saída futura e, portanto, não desejando que a empresa dependa dele, precisa se manter minoritário.
Logo, a ambição, que é um atributo dos empreendedores, no caso dos sócios, se volta tanto para o crescimento de patrimônio e renda quanto para o aumento de poder, o que pode ensejar algum conflito futuro.
A propósito, cabe esclarecer que o investidor ideal também tem o perfil empreendedor, no sentido de se propor a ajudar ativamente na realização de um propósito maior.
Assim, contar com um investidor que possa dedicar-se a mentorar a empresa investida, transferindo conhecimento além de aplicar capital, tende a fazer uma enorme diferença, principalmente no caso das start-ups.