Gestor e Empreendedor

 

Um dos maiores paradoxos do tempo, que exploro em meu livro “Tempo e Razão” é a dualidade entre instantaneidade e duração. A instantaneidade do evento que caracteriza a mudança e a ruptura versus a duração da situação que marca a continuidade. Esta dualidade é fonte de um dos dilemas da liderança: entre os papéis de gestor e de empreendedor.

O líder é responsável pela gestão da rotina e manutenção dos processos operacionais. Mas toda organização que não muda para se adaptar definha. Por isso, o líder também precisa empreender a mudança e encaminhar projetos de melhoria ou inovação que promovam a evolução organizacional.

A estabilidade da rotina é tão necessária para a manutenção de sistemas orgânicos quanto a experimentação da mudança. Entretanto, podemos delinear dois perfis distintos.

Gestores muito prudentes zelam pela manutenção da rotina e observância de padrões e têm uma tendência de assumir a rotina como uma “zona de conforto”, rejeitando a mudança como portadora de riscos.

O encaminhamento da mudança requer iniciativa e coragem, características típicas do perfil empreendedor. A novidade tem um aspecto lúdico. Freud já dizia que “a novidade constitui a condição do deleite”. Por isso, muitos empreendedores sofrem da falta de “terminativa”. Iniciam projetos que largam no meio para iniciar outro quando a excitação da novidade passa e os problemas mais comezinhos da gestão de projetos aparecem. Outros sofrem do vício da temeridade. Para Aristóteles, as virtudes (bons hábitos) são o meio termo entre dois vícios (maus hábitos): o da falta e o do excesso. Enfrentar o medo é coragem; ser dominado por ele é covardia – falta de coragem; ignorar o risco é temeridade – excesso de coragem.

O bom líder então deve praticar a virtude do equilíbrio entre o gestor dos processos operacionais que asseguram a continuidade da organização no presente e o empreendedor de projetos de mudança que asseguram a sua continuidade futura.

1 Comment

  1. Newton Braga Rosa says:

    Caro prof Jaime

    Como sempre, um artigo importante, denso e bem embasado.
    Me lembrou a teoria do equilíbrio pontuado (Gould, 1972) nas organizações. A evolução de um organização ocorre de forma incremental por longos períodos, pontuada por “explosões” raras de evolução desruptiva, de curta duração.
    Abraço

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