Cap. 1 – Escravos do Tempo – Parte 2

Tempo Acelerado – Vida Saturada

Nossos antepassados percebiam o tempo pela passagem dos dias, pelas variações climáticas, pelos ciclos de nascimento e morte. A vida era feita de acontecimentos naturais e cíclicos, dos quais o homem participava, mais ou menos passivamente, integrado à natureza, como parte do ciclo. Já, na vida moderna, os acontecimentos são convenções. É a hora de acordar, a hora do trabalho, a hora do almoço, a hora do jogo, a hora da novela, a hora do noticiário, a hora de dormir. O tempo dos homens não se submete mais aos ciclos naturais. O homem cria eventos, é o senhor das horas, o dono do tempo. Programa e sincroniza tudo para que a organização artificial da rede econômica funcione a contento. E, a cada dia, novas convenções são criadas, na forma de produtos e serviços que multiplicam os acontecimentos amarrando o homem à velocidade das máquinas. Assim, o tempo se acelera, pois a mesma duração é povoada por um número cada vez maior de eventos. O tempo pós-moderno é mais rico, mais coisas se criam, mudam e desaparecem a uma velocidade cada vez maior. Mas, a aceleração das mudanças traz embutido o aumento do risco, vive-se em permanente crise. O ritmo do mundo artificial está acima da capacidade do organismo natural. Tentando dar conta de tudo, o homem deixa de dar-se conta de si e perde o controle de suas emoções.

A cada instante novas oportunidades se descortinam em todos os campos, de maneira interligada e interdependente: na vida profissional e na pessoal, no lazer e no trabalho. Os interesses, os vários papéis que assumimos espicaçados pelas inúmeras ofertas e possibilidades, também se multiplicam. Atualmente, é raro encontrar uma pessoa que tenha uma única área de interesse. Cada vez mais, pode-se conhecer mais sobre mais assuntos, experimentar mais situações distintas, abrir-se a novos pontos de vista. Os profissionais tornam-se especialistas-generalistas. E, na ânsia de realizar tanto em tantos e distintos campos, no afã de aproveitar as muitas oportunidades que se descortinam, saturam a própria disponibilidade. Vivem ansiosos, com um grande medo de perder tempo.

Por medo de “perder tempo” todos se ocupam rapidamente. Reagem às demandas e oportunidades saturando o tempo com atividades. Contraditoriamente, queixam-se da falta de tempo livre, mas logo tratam de ocupá-lo. Vivem na urgência, acossados pela perspectiva da perda, tangidos pelas demandas, sem tempo para questionar.

Mas tempo livre não é tempo ocioso, e sim aquele cujo uso é decidido livremente, conforme as próprias prioridades. É justamente quando se questiona sobre o que fazer no tempo livre, que surgem, de fato, as questões fundamentais sobre o que se quer da vida (sentido) e quem se é afinal (identidade). Então, o uso do tempo torna-se uma questão ética. Ocupadas e sem tempo livre para pensar, as pessoas perdem o sentido da vida e tudo que fazem parece irrelevante. Levadas pelas circunstâncias, reagem como vítimas do tempo.

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