Retórica é a arte do argumento e do convencimento do outro. Velha arte sofista ensinada nas Academias e praticada nas bancas de defesa e acusação. Desde lá a denúncia platônica de que a finalidade da retórica é a vitória na argumentação e não a busca da verdade.
Para convencer bem é preciso, primeiro, convencer-se: eliminar a dúvida, forçar a convicção, embriagar-se do argumento. Tão mais eficaz é a retórica quanto mais entranhada é a convicção. O argumento torna-se o centro de tudo e a argumentação passa a ser a única finalidade: arte pela arte, falar por falar – o entusiasmo segue-se do embevecimento.
O argumento mais eficaz é o mais simples: reto, não admite desvios ou vacilos. É aí que aparecem as curvas do real a complicar. É quando, em nome da eficácia e do convencimento fácil, o argumento simplifica e patrola a realidade. Então, a retórica dobra os ditames da lógica, força os limites do razoável, entorta as prescrições da moral, rompendo os compromissos com a verdade e com a justiça.
E, neste exato momento, o nosso retórico conquista sua primeira vitória, faz seus primeiros cativos: sua integridade moral e sua sanidade mental, presas do argumento. Vitória de Pirro.