Todos têm princípios: crenças sobre o que é verdadeiro. Todos têm valores: crenças sobre o que é certo. Nem sempre em harmonia, princípios e valores embasam a identidade de qualquer um.
Embora toda crença seja parcial, toda base precisa ser sentida como firme. Não é a base que precisa ser certa e firme – é o sentimento que precisa ser convicto. Convicção é um sentimento entranhado e visceral, com lugar e temperatura. Embaixo (na barriga – intestino) é fria. Em cima (na cabeça – cérebro) é morna. No centro (no peito – coração) é quente. Intestino, coração e cérebro – vísceras. Miúdos, diria o açougueiro. Similares em aparência, outra semelhança os une: são o lugar da convicção.
Há certezas que contrariadas dão um frio na barriga. Essas são filhas do medo. Medo da perda. Quem as cria? O pai, o patrão, todo aquele, enfim, de quem dependemos, que nos garante a vida ou o sustento. Essas certezas são rígidas. Abaladas se quebram. E há o medo de que com elas se quebre também a identidade e a integridade.
Há a convicção do entusiasmo, o calor no peito de um coração quente. Certeza que vem da confirmação dos correligionários, dos irmãos, dos iguais. Crença compartilhada aos hurras e expressa em gestos, que enleva, irmana e embebe a todos. Porém volúvel, varia ao sabor das companhias e das maiorias de ocasião.
Por fim há a convicção que emana da reflexão (solitária) e do diálogo (com o oposto). Seu lugar é a cabeça, sua víscera é o cérebro. Certeza provisória, flexível e morna, quase fria.
Convicções sempre viscerais, portanto. Mas com a maturidade parece que as certezas vão subindo no corpo e buscando um meio termo.