Emoção, “e-motio”: mover para fora. A raiz latina denota o fim. No fim da emoção, a ação. Na origem de toda ação, uma emoção. No fim, ou no princípio, agimos por emoção. Animais racionais? Não. Animais apenas, e, como tal, emocionais.
A raiz da palavra denota o seu fim, eu dizia, mas omite o seu início, afirmo. O primeiro movimento é interno. É um mover para dentro, ou por dentro. E ocorre no cérebro mais animal, no sistema límbico. Cérebro: caldeirão mágico da criação de mundos ou simples panela de pressão de hormônios? Idéias e ações, o que há de mais humano ou divino no homem, para um materialista não passa de agitação hormonal, aquecimento da sopa de hormônios a excitar células. A emoção prepara a ação. A ação humana e toda a ética, no final, resultam da adrenalina.
A emoção é o próprio “prazer em movimento” cirenaico. Sem emoção, não há solução. Porque, simplesmente, sem emoção não há problema a exigi-la. Sem emoção não há problema nem solução, não há dor nem prazer, não há falta nem plenitude. Desejo é falta, dizia Platão. Para suprir esta carência imensa criamos mundos, compusemos sinfonias e odes, desenvolvemos matemáticas e linguagens, fizemos guerras e construímos armas, destruímos a Terra e a reconstruímos.
Prazer sim, mas “em repouso”, contestaria Epicuro. Prazer estável, ausência de dor: “ataraxia”. Sem, inclusive, a dor do desejo: carência, ardência, esse prazer “em movimento” que produz no homem idéias (objetos de desejo) e o move no seu sentido. Ausência de dor: literalmente, indolência. Indolente, no dicionário: inativo. Epicuro que me perdoe, e com ele Buda e os estóicos, mas essa sabedoria de enterrar-se no presente e bastar-se é o que chamo de “sabedoria de abóbora”: niilismo. Como se esforço significasse dor, ou melhor, como se dor fosse sinônimo de mal.
Ora, o prazer em movimento sempre se acompanha da dor. O prazer em repouso, que seria plenitude, é a plenitude do vazio, do nada: nada desejar ou esperar do futuro, nada lamentar ou recordar do passado e, nem mesmo, apegar-se ao presente fugidio. Desfrutar sem apego? Não! Desfrutar com moderação, “sofrosyne”. Virtude do meio termo entre vício do excesso (sofreguidão) e o vício da falta (insensibilidade). Há que cuidar o equilíbrio. Que se perde quando buscado. Em materia de equilíbrio, se todo cuidado é pouco, muito cuidado é demais.
Desejo de desfrutar que surge como dor, sentimento de falta. Falta que engendra a ideação de um objeto que preencha esse vazio. Fruição (ou dor) antecipada e virtual da idéia: esperança ou medo, mas sempre fantasia. Desejo de prazer sempre acompanhado de seu fantasma: o medo da dor. Duplos necessários, basta evocar um para que surja o outro. Qual o nome desta dupla fantasmagoria? Eu vos digo ou vos desvelo: seu nome é emoção. Emoção criada pelo próprio sujeito, no processo de ideação. Criação do intelecto pelo intelecto, E, na origem, a emoção. Em movimento, sempre. Prazer e dor, dois nomes para a emoção. Necessariamente complementares. Eros cria Tanatos, Tanatos engendra Eros. Gêmeos univitelinos cujo parto dá luz a um filho com vários nomes: intelecto, consciência, alma, razão. Ao longo do processo a fusão dos opostos confunde, a escolha do sentimento se impõe, a complementariedade se perde e a emoção se elabora num significado. Gêmeos fratricidas. só a um é dada a luz da consciência. O outro fica lá, espectro fetal de uma idéia abocanhada pelo irmão. Inconsciente: casa assombrada dos gêmeos natimortos. Consciência: palco iluminado de idéias mutiladas, órfãs de suas irmãs cuja existência teimam em desconhecer.
Tudo então, afirmo, começa com a energia propiciada pelo estresse. (E há quem não goste dele!) A questão é: como dirigi-la, ou canalizá-la. Isso requer compreensão e método. Resposta natural com uma causa ou criação original de uma vontade? Causa de si mesma, autonomia, ou efeito inexorável do acaso ou da intenção alheia?