Empreendedorismo não é vocação, é invocação

Posso dizer que sou um empreendedor. Afinal já criei 9 empresas, várias delas com razoável sucesso. Não que eu seja um modelo, mas noto em mim uma característica que pode ser comum a outros empreendedores: a falta de uma vocação clara. A palavra vocação pode ser associada a duas coisas distintas: facilidade ou destino. O garoto bom de bola tem vocação para o futebol por um dom inato, domina a bola com uma facilidade que a maioria jamais terá por mais que se esforce. O menino vocacionado para a vida religiosa cumpre como que um destino, úma vontade maior do que a dele mesmo. Acho que é característica comum a todos os empreendedores uma vontade forte, que dificilmente se submete a qualquer destino. Mas quero explorar o outro aspecto. O fato de não ter facilidade para nada me ensinou a superar desafios. Tudo foi difícil, desde conversar pela primeira vez com uma menina até aprender matemática, passando por aprender a dominar, razoavelmente, uma bola. Tudo foi aprendizado árduo, superação de limitações e obstáculos. Para persistir no aprendizado a vocação não ajuda, talvez até atrapalhe. O que é necessário é invocação. Aquilo que eu não sei fazer, aquilo que eu tenho dificuldade de aprender, me invoca. Invocação é exatamente a motivação para enfrentar o desafio de vencer a inércia e a ignorância, e de persistir no aprendizado. Não busco a vocação, fazer o fácil. Busco a invocação, enfrentar o difícil. Porque eu não sei fazer nada quero aprender a fazer tudo.

O desejo é sempre daquilo que nos falta, dizia Sócrates. Assim, o filósofo não é sábio, pois, justamente por não possuir a sabedoria é que ele a deseja. Assim como o filósofo ama o saber que não tem, o empreendedor ama o fazer que não sabe.

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