Escolas de Gestão do Tempo

Talvez existam tantos especialistas em gestão do tempo quanto consultores e palestrantes na Internet, todos dando conselhos para uma vida melhor e mais produtiva. E eu me incluo neste rol. No entanto, podemos classificá-los, grosso modo, em duas grandes vertentes ou escolas. Uma que eu chamaria de vertente ética/humanista e a outra de vertente pragmática econômica. É claro que dentro de cada escola existem diferentes correntes que defendem diferentes abordagens e técnicas, criticando-se umas às outras, mas creio que todas terão uma das duas origens intelectuais. Uma complicação é que, embora haja muita repetição, todos os autores querem se distinguir e parecer originais para conquistar mais seguidores e clientes. O marketing e a fama, por vezes, parecem importar mais do que a eficácia dos conselhos.

A vertente ética/humanista à qual me filio, tem suas origens no pensamento grego clássico – enfeixando a ética idealista de Platão e Sócrates, a ética das virtudes de Aristóteles, a ética estoica e a epicurista, ou a mais moderna ética racionalista de Spinoza. As ideias mestras dessa vertente são: 1) Tempo é vida; 2) Produtividade é geração de valor visando o aprimoramento pessoal em todas as esferas da vida, e não pode ser quantificada, apenas sentida comparativamente; 3) Existe um ideal de homem ou uma natureza humana que vai além do animal ou do social, que é guiada pela razão e orientada à prática de virtudes; 4) Cada indivíduo dá sentido à sua vida ao escolher livre e responsavelmente o que fazer.

A escola pragmática/econômica se baseia na ciência da Administração de Empresas, que tem sua origem no século XIX nas fórmulas Tayloristas de otimização do trabalho nas fábricas e que evoluiu para incluir inúmeras técnicas e ferramentas aplicáveis ao trabalho individual e em equipe, bem como conceitos da Psicologia Organizacional. Várias destas técnicas também podem ser aplicadas na vida pessoal. O método GTD de David Allen (Allen, 2003) é um representante desta escola. A escola pragmática parte do princípio de que o progresso econômico é a finalidade maior da humanidade e do indivíduo, e que este progresso se atinge pelo trabalho estruturado e cooperativo nas organizações. Assim, ela se volta primordialmente para a otimização do tempo no trabalho, cuja produtividade pode ser medida em termos de resultado ou lucro. A ideia de rotina é também central, incluindo não só as rotinas de trabalho, mas também o fato de que a vida é uma série de rotinas ou períodos de estudo e trabalho intercalados com outros de lazer e descanso em horários ou épocas determinadas. Assim, os objetivos são dados pelas circunstâncias de cada período e não criados ou escolhidos pelo indivíduo, que, entretanto, pode escolher os melhores e mais eficientes meios para atingi-los.

De fato, a escola humanista não nega a eficácia dos métodos e técnicas de organização e planejamento propostos pela escola pragmática e até os recomenda, mas inclui além deles, técnicas e ferramentas para a reflexão, inspiradas na filosofia e na psicologia geral. Assim, ela pretende ser mais completa, no sentido de abranger a outra. Entretanto, alguns autores da vertente ético/humanista criticam a ênfase dos pragmáticos em ferramentas, pois entendem que a automatização de reações a ferramentas pré-programadas vai na contramão do processo de decisão deliberada que consideram como a essência da gestão do tempo.

A crítica dos pragmáticos à vertente humanista é de que ela só é praticável para quem tem a vida ganha – ou seja, para quem tem dinheiro sobrando. Quem precisa trabalhar para ganhar a vida não tem tempo para outra coisa senão trabalhar e descansar. Os humanistas se defendem dizendo que o fechamento no trabalho e no consumo compensatório é um condicionamento da sociedade moderna, resultante de uma estreiteza de visão que pode ser rompida pelo indivíduo que exercite a razão.

Outra crítica, mais acadêmica e mais pertinente, diz que as recomendações da escola ético/humanista soam como autoajuda. De fato, o estilo dos textos varia muito entre os autores da Escola Humanista. A corrente mais autoajuda produz textos de fácil consumo e leitura agradável, recheados de histórias pitorescas e citações, embora alguns omitam referências a outros autores contemporâneos.  Certamente há livros que não vão além do lugar-comum quase banal. Mas, muitas vezes, o óbvio precisa ser dito. A corrente mais filosófica produz textos mais elaborados e, por vezes, rebuscados, o que dificulta sua leitura. De qualquer maneira, a Escola Humanista de Gestão do Tempo ecoa recomendações da filosofia e da psicologia e, como escrevi em meu primeiro livro sobre o tema (Wagner, 2003), “embora o termo autoajuda esteja desgastado, não é sábio nutrir preconceitos em relação a termos. Toda terapia implica autoajuda. Terapia é ajudar alguém que padece. E não se pode ajudar uma pessoa que não quer ser ajudada. Todos padecem da “doença do tempo”, embora nem todos queiram ajuda.”

Eu reúno minhas lições e aprendizados de Filosofia e Gestão do Tempo em um livro, o qual é base de um curso que já ministrei para mais de 25 mil pessoas. Que tal aprofundar este debate nas páginas desta obra? Você é meu convidado a acessá-lo, clicando aqui.

Bibliografia

Allen, D. (2003). Getting Thing Done. New York: Penguin Books.

Wagner, J. (2003). A Arte de Planejar o Tempo. Porto Alegre: Literalis.

 

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