Montaigne
Em 1985, fiz um curso de administração do tempo (baseado no trabalho de Douglass[2]) e passei a praticar e estudar a organização do tempo, esporadicamente, buscando duas integrações. Uma era unir o planejamento de longo prazo da Gerência de Projetos às técnicas de organização do dia-a-dia. Além disso, buscava uma ferramenta que integrasse papel e informática. Meu objetivo era ser mais eficiente: fazer mais, reagir mais rápido, utilizar melhor o tempo como recurso. Depois de vários anos de estudo e prática, reconheci que, em verdade, e desde sempre, mais do que reagir rápido, o que importa é agir certo – a eficácia, mais do que a eficiência. E que, mais do que um recurso, tempo é vida. Administrar o tempo de forma eficaz é viver bem e ser feliz.
Eficácia é mais do que eficiência e mais do que qualidade. Eficácia não significa fazer mais nem fazer certo, mas fazer o certo – as coisas que conduzem à realização e que fortalecem a integridade. Realização é um processo e não um estado de plenitude permanente. Não é uma meta, ou, se o for, é essencialmente inalcançável. Realização é a forma pela qual percorremos o caminho, o aprimoramento ao longo do percurso, e isso pode ser feito com método, seguindo uma “técnica” milenar: viver de acordo com os próprios valores e alinhá-los permanentemente com a realidade mutante. Esta técnica da eficácia é a própria ética, a filosofia da ação e das virtudes morais que, quando praticada, conduz a uma felicidade mais duradoura e mais serena do que aquela outra felicidade de desfutar o prazer.
Dizer que o objetivo da vida é ser feliz é um truísmo. O problema que logo se coloca é: o que é felicidade? Duas respostas milenares e aparentemente opostas. De um lado, deve-se reconhecer que felicidade é algo que se sente, portanto é uma sensação, e uma sensação de prazer. Ser feliz é sentir prazer – é a tese hedonista do epicurismo e o princípio do prazer de Freud: a busca do prazer e a fuga da dor são “o princípio de toda escolha e de toda recusa”. De outro lado, a crítica estóica de que a verdadeira felicidade deveria ser duradoura, e não uma sensação imediata e passageira. Se qualquer organismo aceita sofrer para sobreviver, a preservação da essência do ser está acima da busca do prazer. Se a essência do homem é a razão, viver segundo a razão (a virtude) vale mais do que a fruição do gozo. A felicidade moral é uma sensação sim, mas é uma sensação de segunda mão, derivada de um conhecimento. Sentimo-nos moralmente felizes quando sabemos ter cumprido um dever, ter alcançado uma meta, mesmo que isso envolva dor. Esta é a felicidade da realização, tão maior quanto maior o esforço. A felicidade de cumprir o dever é da ordem da eternidade e do conhecimento (que ficam). A felicidade de sentir o prazer está na ordem do tempo e do corpo (que passam). Uma tese não nega a outra, mas freqüentemente entram em conflito. “Rigor de Epícteto contra a suavidade de Epicuro. Vontade contra volúpia. Alegria do esforço contra o prazer do repouso. São os dois pólos do viver, entre os quais não se trata tanto de escolher, mas de oscilar ou de encontrar um equilíbrio”.[3] Estas duas sabedorias mais se completam do que se opõem na experiência da vida.
Sempre oscilando, hoje sou mais moralista do que hedonista, pois considero que o maior valor está na busca permanente de superar os próprios limites, em aprender e empreender. Mas busco um crescimento integral e harmônico, sem reprimir ou negar a realidade das emoções, do prazer e da dor. E procuro influenciar os outros a percorrer também esse caminho. Realizo-me ao praticar, reforçar e aprimorar este aprendizado, compartilhando-o com outras pessoas. Este é o motivo para escrever este livro, para desenvolver o Sistema PowerSelf e para criar e manter a PowerSelf como empreendimento. O grande prêmio desta jornada é o desenvolvimento de uma consciência mais madura e equilibrada. Mas, contabilizo ainda duas outras gratificações: primeiro, a confirmação de tantas pessoas de que o sistema PowerSelf as ajudou a agregar e gerar valor em suas vidas; depois, o feedback das pessoas mais próximas de que esta prática me tornou uma pessoa melhor para o convívio. Assim, o objeto deste livro é também o de ajudar o leitor a alcançar novos níveis de realização na sua vida pessoal e profissional.
Sim, este é um livro de auto-ajuda. Por que não? Embora o termo auto-ajuda esteja desgastado, não é sábio nutrir preconceitos em relação a termos. Toda terapia implica auto-ajuda. Terapia é ajudar alguém que padece. E não se pode ajudar a uma pessoa que não quer ser ajudada. Todos padecem da “doença do tempo”, embora nem todos queiram ajuda.