Parresía – virtude ou vício?

Aprendi de Foucault[1] o conceito grego de parresía: o dizer a verdade a qualquer custo e sem outra finalidade. Não é demonstração à maneira da lógica e seus raciocínios válidos. Não quer persuadir à maneira da retórica e suas figuras de linguagem, embora Quintiliano a aponte como a figura de linguagem que consiste em não usar figura alguma. Não quer necessariamente ensinar à maneira da pedagogia e também não é uma técnica da arte da discussão ou erística.

Pergunto-me se a parresía é uma virtude como quer a interpretação tradicional e corrente[2] que a define como uma forma de coragem – de enfretamento do medo, no caso, de dizer a verdade. Será que esse apreço pela verdade acima da própria vida é racional? A confissão, a delação e a denúncia verdadeiras sem respeito pela vida alheia podem ser sempre consideradas virtudes? Ou estará esse “amor” pela verdade mais para o lado de um vício ou de uma compulsão?

A questão subjacente é se a verdade é um fim em si mesma ou um atributo do conhecimento com um valor meramente instrumental para a melhor decisão. Isso equivale a colocar a epistemologia a serviço da ética, o que, na minha humilde opinião é plenamente justificável e verdadeiro. Pronto! Pratiquei a parresía!

 

[1] Foucault, Michel. O Governo de Si e dos Outros. Martins Fontes, São Paulo, 2010. Trad. Eduardo Brandão.

[2] http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/parresia—a-coragem-de-dizer-a-verdade/6841

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