Pode-se administrar o tempo?

No colégio aprendemos que tempo é a dimensão onde o movimento ocorre. Vemos então o tempo como uma reta, algo abstrato, mas ainda assim, algo. Mas Leibniz intuiu e Einstein explicou que o movimento não se dá “no tempo”. Tempo “é” o movimento das coisas, não uma coisa em si. Seu tempo é o que acontece e o que você faz acontecer. Seu tempo é sua vida.

Entretanto, tempo e vida parecem distintos. Tempo é trabalho e dever, vida é nos fins de semana ou nas férias – o lazer. Cria-se o conflito entre uma persona moralista, que cumpre deveres, atarefada e ocupada; outra hedonista, que frui prazeres, ociosa e livre. Desde pequenos vamos ao colégio para aprender algo útil para, no fim, ganhar dinheiro. A mensagem subliminar é clara: a finalidade da vida é o dinheiro. Alienação do trabalho, cuja finalidade, para o indivíduo, não é mais gerar valor, mas ganhar dinheiro. A vida torna-se uma competição para acumular dinheiro, trabalha-se para deixar de trabalhar, criar uma reserva de prazer, o mito da euforia perpétua e do ócio permanente. Loucura? Psicopatia social. Porém cuidado: negar que o tempo é dinheiro pode ser uma sociopatia.

Pode-se administrar o tempo? Ou, por outra, pode-se viver melhor? Existe técnica para isso? Várias. A ética, a psicologia e as terapias psi, buscam isso: fórmulas para viver melhor, a felicidade possível. Então, não se controla o tempo em si, mas pode-se adquirir um pouco de autocontrole e agir de maneira mais consciente e racional. Não existe falta de tempo, mas sim falta de prioridade. O que se pode definir é a prioridade dos eventos que dependem da vontade. Essa é a base de toda disciplina moral. Mas, desde Freud, sabemos os riscos dessa disciplina se basear na repressão inconsciente da expressão emocional.

Separo a questão em duas esferas que se confundem: organização e planejamento. Organização é reagir bem, responder proativamente. Planejar é agir continuada e cumulativamente para mudar o que acontece. Uma é adaptação às circunstâncias e às limitações, a outra é mudá-las e superá-las. Uma é realizar a rotina de forma correta, a outra é mudar e criar novas rotinas. Uma é adaptar-se, outra é tentar mudar. Há uma certa ruptura e até conflito. O planejamento requer uma quebra da rotina e compete com ela. É preciso ceder de um lado e dar atenção ao outro equilibradamente.

A fórmula da organização:
· Anotar o que acontece (para esclarecer e não esquecer) e dar respostas.
· Contar até três antes de reagir para poder escolher a melhor resposta;
· Ao escolher, ser fiel aos próprios princípios e valores – às bases filosóficas. Valor é o que se crê ser correto; princípio é o que se acha que é verdade.
· Dedicar tempo à reflexão e ao diálogo para questionar e solidificar a base (princípios e valores).

A fórmula do planejamento é um processo em três níveis:
· Político: a coragem de definir metas difíceis e encarar os problemas maiores. Política é a arte do presidente.
· Estratégico: analisar causas e dividir o problema/meta em objetivos intermediários. Estratégia é a arte do general.
· Tático: avaliar o que já fez e decidir o que pode ser feito no próximo período, e adaptar metas e estratégia às circunstâncias reais. Tática é a arte do sargento – usar a estratégia para enfrentar o campo de batalha e adaptar a estratégia em função da realidade.

No fundo, toda organização é emocional. O método acima ajuda a pensar bem para sentir melhor, melhora a inteligência emocional. É o caminho do desenvolvimento do caráter segundo a ética das virtudes. Convém beber na fonte do ABC da virtude: Aristóteles, Buda e Confúcio. A essência é a prática de três disciplinas: reflexão, planejamento e atenção. Disciplinas não são naturais, precisam ser aprendidas e desenvolvidas. A maneira de desenvolvê-las consiste na adoção de três hábitos:
1. Tempo Calmo de 15 minutos por dia para fazer um Plano Diário, separando as ações com prazo dos compromissos com hora marcada para iniciar e terminar, e priorizando as ações segundo o método ABC.
· A (importante e urgente),
· B (importante, mas não urgente)
· C (não importante, urgente ou não).
2. Encontro Pessoal de 30 minutos no fim de semana para repassar a semana anterior atentando para os sentimentos evocados. Não se controla os acontecimentos, mas pode-se elaborar seu significado e a forma de reagir a eles. Analisar as iniciativas a serem tomadas na próxima semana para encaminhar as metas/problemas mais difíceis.
3. Durante o dia, anotar os contatos, idéias e pensamentos num Diário. Revisá-lo no Tempo Calmo e/ou no Encontro Pessoal.
Também é importante saber desfrutar o presente e não esquentar demais a cabeça, pois “a longo prazo, todos estaremos mortos” (Keynes).

Deixe uma resposta